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Sala de Jantar

As minhas receitas, as receitas de outros e umas deambulações pela gastronomia. Sabores com memória, sabores para partilhar.

Sala de Jantar

As minhas receitas, as receitas de outros e umas deambulações pela gastronomia. Sabores com memória, sabores para partilhar.

LaxPudding

Maurício Barra, 27.07.10

 

 

LAXPUDDING

 

O LaxPudding, ou, traduzindo culináriamente para português, empadão de salmão, é uma receita tradicional sueca. Óptima para uma refeição leve no Verão, acompanhada por uma  salada de mistura de verduras.

Ingredientes :
400g de salmão fumado
1½kg de batatas
4 ovos
300ml de natas para bater
400ml de leite
2 cebolas
1 punhado de endro/aneto ou, em inglês, dill (erva aromática muito utilizada na culinária sueca)
Sal e pimenta branca

Modo de preparação :
Coza e descasque as batatas assim que arrefecerem.
Descasque e corte as cebolas às rodelas. Seguidamente, leve-as a saltear num pouco de manteiga até amolecerem, mas sem deixar alourar demasiado.
Unte um tabuleiro e cubra o fundo com uma camada de batatas cortadas às rodelas. Em seguida deitar, por esta ordem: metade das cebolas, metade do salmão e por fim o endro picado. Repita o processo pela mesma ordem, e termine com uma camada de batatas.
Numa tigela bata o leite com as natas, os ovos, o sal e a pimenta. Regue o “empadão” com o molho e coloque umas nozes de manteiga em cima da última camada de batatas.
Leve ao forno a 200ºC durante 45 a 60 minutos, ou até o “empadão” estar firme e consistente.

 

Pescada com Môlho de Ovos

Maurício Barra, 25.07.10

 

 

PESCADA COM MÔLHO DE OVOS

A pescada, que antes de o ser já o era, é um peixe que o tempo transformou num all-in-one, dá para tudo. Recordo a pescada "arrepiada" da minha infância ( já quase ninguèm a faz e nem se encontram pescadas de 2 kilos "do dia " ), as pescadinhas fritas de rabo na bôca com arroz de tomate fresco, os fricassés com arroz carolino, e, mais tarde, os filetes de pescada com arroz de berbigão do Beira-Mar em Cascais.

A receita que vos proponho é uma reedição feliz de uma confecção antiga, muito saborosa. 

 

Ingredientes :

postas de pescada

cebola

alho

louro

sal

espinafres

ovos

azeite

batatas novas

vinagre balsâmico

 

Confecção:

Escalfar a pescada - ou as respectivas postas - em água que já está a ferver previamente, temperada com salsa, cebola, alho e louro.

Cozer os espinafres em vapôr.

Cozer as batatas com a pele, despelar.

Num recipiente, emulsionar o azeite com gemas de ovo até formar um môlho cremoso.

Para servir, temperar os espinafres com o vinagre balsâmico e colocar o môlho de gemas sobre a pescada e as batatas.

 

 

A Batata Dôce de Aljezur

Maurício Barra, 23.07.10

 

 
A BATATA DÔCE DE ALJEZUR
 
Abaixo da fronteira do Alentejo com o Algarve, onde o rio ( "ode", em bérbere ) Ceixe dá o nome a uma pequena localidade que se debruça sobre o mesmo e abre um anfiteatro sobre o mar com uma praia icónica ( Odeceixe), Aljezur situa-se no interior do litoral que, quando encontra o mar, descobre-nos algumas das melhores praias da Costa Vicentina ( Monte Clérigo, Amoreira, entre outras ). Localidade pequena, contudo ancestral ( era fronteira norte do tribo dos Cónios, anteriores à ocupação romana, e manteve importância relativa de marco territorial que o seu foral e castelo medieval comprova ), tem uma vida própria muito característica, mantendo-se como sede de concelho.
Gastronómicamente é  terra dos percebes e de batata dôce. A sua batata dôce, que pede encómios, criou uma imagem tão assertiva que hoje está defendida como produto de indicação geográfica protegida, tendo o seu festival anual no mês de Dezembro ( mas tenho de reconhecer que nas Caldas da Raínha a batata dôce tambèm é de truz, onde, na sua praça ao ar livre - provavelmente a praça mais bonita de Portugal, se não compararmos com o mercado coberto dos Lavradores no Funchal - se pode comprar batata dôce que assou lentamente toda a noite em forno de lenha ).
É com batata dôce que hoje vos vou abrir o apetite. Não na versão adocicada ( filhós, bôlo, pudim ). Mas com três receitas onde compõe ligações perfeitas, acompanhando frutos que o mar nos dá : uma com sabôr mais a pender para o Barlavento, duas com um trago mais alentejano.
 
CARAPAUS ALIMADOS COM BATATA DÔCE

 Arranjam-se uns quantos carapaus, tirando-se-lhes a cabeça e as tripas. Deixam-se temperados de sal de véspera. No dia seguinte, lavam-se e podem mesmo deixar-se algum tempo de molho em água, para perderem o execesso de sal. Cozem-se em água a ferver durante cerca de 5 minutos. Tiram-se para fora e deixam-se arrefecer até que seja possível, com as mãos, retirar-lhes a pele.
Na versão mais tradicional, são servidos ainda quentes e temperados no prato com azeite e vinagre ou azeite e limão. Na versão de Aljezur são servidos frios com rodelas de cebola, alho e salsa picados por cima, já temperados de azeite e sumo de limão, e acompanhados com batata doce cozida às rodelas.
 

CHOCOS COM BATATA DÔCE E ERVILHAS
Numa caçarola, com fogo baixo, levar a branquear em azeite cebola picada, tomate picado e pimento cortado em tiras finas. Juntar os chocos  ( se forem grandes, cortados em cubos pequenos ).
Quando os chocos estiverem quase cozidos - atenção que estão prontos em pouco tempo - juntam-se as ervilhas e, pouco depois, as batatas dôces cortadas também em cubos.
Se necessário juntar um pouco de água. Deixe engrossar o môlho.
Servir acompanhado por um vinho branco maduro.

SARGOS ESCALFADOS COM BATATA DÔCE
Eviscerar e retirar as escamas aos sargos ( um por pessoa ) e temperar com sal .
Numa frigideira grande, alourar em azeite cebola às rodelas, louro, alhos esmagados e duas bagas de piri-piri, sem deixar queimar. Juntar um pouco de vinho branco sêco.
Escalfar os sargos inteiros e servir com batatas dôces cozidas cortadas às rodelas grossas.

 

Vatel

Maurício Barra, 21.07.10

 

VATEL

 

Um duque endividado contrata o melhor cozinheiro da França para encantar o Rei Luís XIV e conseguir seus favores. Neste filme vemos, e quase cheiramos, o deslumbramento da cozinha espectáculo. Os melhores produtos, a mais adequada confecção, a cadência dos sabores numa refeição, na sequência das refeições, no mesmo dia, nos dias que se seguem, como parte conceptual de temas a representar, encenados, decorados, com actores e música, quase que atinge  o limite muito ténue que separa a prazer da gastronomia da decadência de Gomorra,  o climax do prazer irracional. Um grande filme de Rolland Joffé que ficiona uma personagem que existiu, que foi real em tempos reais.  

 

Curd de Limão

Maurício Barra, 19.07.10

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O Curd de Limão é provavelmente a compota mais eclética que se pode ser em casa. Serve para os pequenos almoços e lanches ( com torradas e scones ),serve para rechear bôlos, serve para compôr sabores em alguns pratosde carne. E tão fácil de fazer.

 

 

CURD DE LIMÂO

 

Ingredientes para 4 frascos pequenos:
6 limões
6 ovos
120gr de manteiga sem sal
450gr de açúcar

Preparação:
Lave bem os limões. Num tacho coloque o açúcar, a manteiga, o sumo e a raspa dos limões, e leve ao lume até dissolver tudo.
Entretanto bata os ovos com uma vara de arames.
Retire a mistura de limão, açúcar e manteiga do lume e adicione os ovos batidos sem parar de mexer. Leve novamente ao lume (brando), sem deixar de mexer e até a mistura ferver e engrossar.
Retire do lume e distribua pelos frasquinhos. Volte-os de cabeça para baixa durante 30 minutos para criarem vácuo e guarde no frigorífico ou num local fresco até usar.

 

 

 

As Expedições ao Vila Lisa

Maurício Barra, 16.07.10

 

 
AS EXPEDIÇÕES AO VILA LISA
 
No Verão, é sabido, a tipologia da gastronomia que é oferecida nas áreas onde se concentra mais turistas deixa muito a desejar. Grelhados e "comida internacional".
Bom, mas no Alentejo "a coisa fia mais fino". Além de que fazer férias num monte alentejano é para "militantes", a gastronomia a que se tem acesso permite provar sabores antigos, além de tudo o que o mar proporciona ( percebes, bruxas, os melhores sargos do mundo, as anchovas grelhadas  cada vez mais raras, e o melhor do mais singelo dos frutos do mar, as navalheiras carnudas a saber ..... para amar ).
Contudo, a sul,  existe um templo que obriga devoção : o Vila Lisa. Excusado será estar agora a incensar o que está mais do que benzido, além de confirmar que todos os encómios são mais que merecidos. E assim, de vez em quando, lá se organizava uma expedição à Mexilhoeira, dia de fora de portas prolongado e de preparação assizada, já que as expectativas eram de muita salivação. Sempre saciadas. Para reencontrar os sabores da serra e do mar do "promontório".
Destas visitas apresento-vos três singelas receitas, do próprio Vila, que são um  bom exemplo de que por vezes atrás da confecção mais simples dos mais simples dos produtos se encontram os sabores mais sublimes. E que todos nós podemos fazer em casa.
 
XERÉM DE BERBIGÃO
1 kg de berbigão
200 gr de farinha de milho grossa
2 litros de água
2 colheres de azeite
cebola
coentros
sal grosso
Num tacho, colocam-se o azeite e a cebola a alourar; adiciona-se a quantidade de água mencionada; espalha.se a farinha lentamente e vai-se mexendo ao mesmo tempo. Ferve durante quinze minutos. Passado esse tempo, junta-se o berbigão com os coentros picados. Quando o berbigão estiver aberto, rectifica-se de sal e serve-se.
 
RAIA ALHADA
400 gr de raia
5 dentes de alho com casca
3 colheres de azeite
1 colher de vinagre
4 batatas
salgrosso
A raia deve ser muito bem lavada em água corrente e deve ficar com sal durantre duas horas. Num racho com água a ferver, introduz-se a raia e deixa-se cozer cerca de cinco minutos, aproximadamente.
Deixa-se arrefecer, desfia-se às lascas e espalha-se numa travessa,colocando por cima batatas cozidas com a pele, despeladas e cortadas aos cubos pequenos. Num almofariz esmagar os alhos com a casca, juntar o azeite, o vinagre e três colheres da água onde cozeu a raia. Mistura-se tudo. com este preparado rega-se a raia e as batatas. Come-se frio
 
QUEIJO DE FIGO
1 kg de figo sêco
500 gr de miolo de amêndoa
25 gr de chocolate em pó
1 colher de sôpa de erva-dôce
5 gr de canela
300 grs de açúcar
1 chávena de água
1 cálice de medronho
raspa de limão
Moem-se os figos e as amêndoas grossamente. Num tacho colocam-se os seguintes ingredientes : chocolate, erva-dôce, canela, raspa de limão, medronho, açúcar e um pouco de água. Vai ao lume e mexe-se até ficar tudo ligado. Seguidamente mistura-se a amêndoa e o figo e mexe-se até ficar uma massa homogénea. Retira-se do lume e deixa-se arrefecer. Finalmente, retirando pequenos bocados, molda-se esta massa em forma de pequenos queijos.
( NB : estas queijos de figo já os servi em casa flambeados com aguardente de medronho e, para os  mais gulosos, com uma bola de gelado de noz).
 
 
 

Sôpa de Meloa

Maurício Barra, 15.07.10

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

No Verão apetecem sobremesas leves, frescas e frutadas. Eis uma receita,que recolhi já não sei onde. É óptima.

 

SOPA DE MELOA

 

Ingredientes :

meloas
vinho do porto branco
folhas de hortelã

sorvete de limão

 

Preparação:

1 - Retirar com uma parisienne 10 a 15 bolinhas de meloa. Retirar a casca e aproveitar a restante polpa. Dispor num copo misturador;

2 - Reservar as bolinhas e adicionar o vinho do porto branco. Triturar até obter um sumo espesso. Adicionar as folhas de hortelã picadas;

3 - Colocar num prato de sopa e decorar com as bolas de meloa, umas folhas de hortelã e o sorvete de limão.

 

 

 

 

Os Grelhados dos Chefs

Maurício Barra, 12.07.10

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

OS GRELHADOS DOS CHEFS

Na cozinha clássica, grelhar não é considerado gastronomia. Gastronomia é ( seria) quando existe confecção e/ou conjungação de tratamentos a quente ou a frio que transformam e multiplicam sabores a partir do(s) produtos base.

Pois parece que o paradigma é desafiado por alguns chefs de cozinha portugueses, que, a convite do jornal i , propõem sugestões interessantes. Ei-las.

  

 

ESPETADAS DE FRANGO por MAFALDA LEITE PINTO

4 pessoas

 

•  ‑1 iogurte natural
•  ‑1 colher de chá de raspa de gengibre
•  ‑2 colheres de sopa de coentros picados
•  ‑6 peitos de frango, cortados em cubos de 2 de cm
•  ‑250 g de pimentos Padrón
•  ‑1 abacaxi pequeno, cortado em cubos de 2 cm
•  ‑250 g de tomate-cereja
•  ‑500 g de batatas bebé, cozinhadas até começarem a ficar moles
•  ‑Espetos de bambu, que estiveram de molho em água 20 minutos

Comece por fazer a marinada do frango. Misture o iogurte, gengibre e coentros num prato de cerâmica ou de pirex. Junte o frango e deixe marinar 30 minutos até um dia.

Passe o frango pelo espeto alternando com os pimentos Padrón e abacaxi. Faça outra espetada com frango, tomate--cereja e batata.

Aqueça uma grelha e cozinhe as espetadas até ficarem douradas.

  

 

LEGUMES GRELHADOS COM PARMESÃO por JOSÉ AVILLEZ
4 pessoas


•  ‑200 g de beringela
•  200 g de courgette
•  ‑100 g de cogumelos portobello
•  Azeite q. b.
•  1 dente de alho
•  Raspa de limão
•  Raspa de tangerina
•  1 raminho de tomilho
•  1 raminho de alecrim
•  50 g de lascas de parmesão
•  Sal q. b.

Corte a beringela e a courgette em rodelas da mesma espessura e marque os dois lados numa grelha.

Numa frigideira, salteie os cogumelos às fatias com azeite e sal até perderem alguma água. Ponha tudo num tabuleiro com azeite, sal, alho, tomilho, alecrim, raspa de limão e tangerina. Leve ao forno a 100ºC 20 minutos. Sirva os legumes quentes ou frios com lascas de parmesão.

 

 

  

DOURADA GRELHADA COM BERINGELA por LUÍS BAENA

1 pessoa

 
•  ‑1 dourada
•  1/4 de beringela
•  1 rodela de cebola
•  25 ml azeite
•  Sal q. b
•  1/2 dente de alho
•  Sumo de limão q. b.
•  Orégãos q. b.

Furar uma beringela com um palito de espetada de um lado ao outro. Pô-la a grelhar suavemente até ficar tostada por fora (como para fazer os pimentos assados).
Retirar a pele, reduzir a puré, acrescentar alho picado, orégãos e sumo de limão.
Grelhar a dourada sem a golpear. Temperar com sal e pimenta. Pôr rodelas finas de cebola a grelhar também.
No prato, dispor umas colheradas do puré de beringela e por cima as rodelas de cebola (dar-lhes o formato de um cone).
Retirar os lombos de dourada e, aproveitando a sua gordura, acrescentar só um pouco de ervas frescas picadas

 

 

DOUBLE CHOLETON por CHEF OLIVIER
1 pessoa

 
•  1 bife de choleton de 600 g,
•  Sal com ervas aromáticas (100 g de sal grosso,1 colher café de tomilho, 100 g de manteiga, estragão, orégãos, salsa, tudo bem picado)
•  Pimenta preta moída

Esfregue bem o preparado na carne e deixe 15 minutos.

Disponha o choleton no grelhador; cada lado deve ficar uns bons 10 minutos a grelhar. Corte em fatias e reserve. Pincele o bife com a manteiga e leve à salamandra para tostar.



ESPETADA DE CHAMPIGNONS por MARIA DE LURDES MODESTO

1 pessoa

A receita é originalmente com boletos. Como não é época deles, Maria de Lourdes Modesto aconselha a troca por champignons de tamanho médio.

•  ‑4 cabeças de champignons médios
•  ‑1 haste de alecrim
•  ‑4 colheres de sopa de azeite
•  ‑Flor de sal
•  ‑Folhas de alecrim
•  ‑Pimenta-preta (partida)

Retire as folhas das hastes de alecrim e demolhe-as em água fria. Enfie os champignons nos pauzinhos de alecrim, sem os apertar. Disponha as espetadas num tabuleiro e regue-as com um fio de azeite, polvilhe com flor de sal e espalhe algumas folhas de alecrim. Disponha as espetadas numa grelha e ponha--as sobre o lume forte de carvão já ardido. Quando os cogumelos estiveram bem grelhados, polvilhe com flor de sal e algumas folhas de alecrim cortadas. Na altura de servir, tempere as espetadas com um pouco de pimenta preta pisada.

 

 

 

 

Natal no Verão

Maurício Barra, 09.07.10

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O NATAL DO VERÃO

 

Durante todos os anos que passei o Verão no Roncanito, perto de Odemira, sobre o rio, num monte "atrás do sol posto", foram inúmeros os repastos que fiz , para os quais convidava todas as pessoas amigas de que me lembrava e os hóspedes que acolhia. Casa de família e de amizades, a indolência alentejana e a liberdade de ter tempo  permitia convívios alegres e sinceros, nos quais o jantar era o ponto de reunião após as derivas que cada um e cada uma faziam no decorrer do dia.

Uma das cenas prandiais que mais retenho na memória é o Natal no Verão, feliz expressão do Kai J. Conheci-o e á sua família, por mero acaso, na praia do Brejo Largo, à qual só se tem acesso por jipe e por caminho não assinalado ( em pleno Verão, na costa alentejana, ter uma praia de quase dois mil metros de extensão só com 20/30 pessoas é um paraíso, quase privado; e não, não vos digo onde é ). Com barco, em pesca submarina ou em pesca de anzol, o Kai apanhava ( apanha ) tudo o que de melhor o mar pode dar. E trazia tambem grandes polvos. Mais fresco é ímpossível, melhor sabor não há, naquelas frias águas do Atlântico. Uma vez em conversa perguntou-me ( ou eu disse-lhe, já não me lembro ) se conseguia transformar os octopodes numa refeição que prestasse homenagem à sua fresquidão. Era um desafio que não podia recusar.

E assim começou a tradição de todos os Verôes fazer o jantar de polvo. Com o Kai e a sua família, a Quica, a Nô e quem estivesse convidado para férias no monte, eram "momentos que ficam para a vida". Boa gente, boa comida e ..... boa música ( um dos jantares ficou memorável quando, no fim, estando nós, sentados no alpendre a bebericar uma fabulosa aguardente de medronho que eu tinha "arranjado" de um pastor que vivia num monte lá para os lados de Sabóia, com a lua cheia a reflectir-se no rio à nossa frente, a Maria Callas começou a cantar umas árias divinas. Ficámos suspensos, em silêncio, com os olhos marejados de felicidade ).

É de polvo e de nostalgia que hoje falo. De como o cozinhava e era feliz nesses Natais do Verão.

 

POLVO À FEIRA

POLVO NO FORNO

ARROZ DE POLVO 

( sei que nós, os meridionais, não temos a fama de ter tão bom polvo como os nossos conterrâneos setentrionais; pois bem,  pode ser que sim ,excepto no litoral alentejano, o qual é tão bom como o galego )

 

polvos ( muito grandes )

batata de areia

azeite

arroz duplo carolino ( ou carnaroli )

cebola, alho, louro, salsa, colorau, piri-piri sêco

 

Cozer o polvo em água fria temperada com cebola, salsa, alho, louro e 2/3 bagas de piri-piri sêco. Quando estiver no ponto, retirar e reservar a água no qual cozeu.

Cozer as batatas com a pele e despelar.

Numa frigideira, em basto azeite, branquear cebola ás rodelas e alhos esmagados.

Cortar o polvo : a cabeça picar grosso, os tentáculos inteiros, cortar parte superior de cada um.

Numa assadeira colocar os tentáculos do polvo, as batatas, colocar por cima a cebola com o azeite, temperar com colorau e salsa picada. Levar ao fôrno durante 20 minutos.

 

Cortar  a parte de cima dos tentáculos em fatias finas. Colocar num prato, temperar com azeite, pimenta e colorau. Servir como entrada.

 

Num tacho alourar cebola picada em azeite, juntar o arroz, a cabeça do polvo cortada, fritar, juntar duas vezes e meia da água onde cozeu o polvo. Deixar cozer 16 minutos, até ficar caldoso, desligar. ( existe outra forma de fazer o arroz de polvo, que por vezes até prefiro : depois de cozer o polvo, cortá-lo em pedaços pequenos. Cozer arroz vaporisado só com dobro de volume da água do polvo, até ficar solto e sêco. Numa frigideira grande, saltear alhos picados em azeite. Juntar oa pedaços de polvo e saltear. Finalmente juntar o arroz e saltear tambem. Excepcional, é o que vos digo ).

 

Servir o polvo na assadeira com o arroz à parte. Não sem antes terem petiscado a versão alentejana do polvo à feira com um bom vinho tinto ( se fosse este ano recomendava o Grous: tem estado bom todo o ano )

 

 

NB : com esta receita inicio uma sequência que apresentarei durante este Verão, da cozinha do sul e do sudoeste alentejano ( que com um grande prazer revisito frequentemente ). 

 

 

 

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