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Sala de Jantar

As minhas receitas, as receitas de outros e umas deambulações pela gastronomia. Sabores com memória, sabores para partilhar.

Sala de Jantar

As minhas receitas, as receitas de outros e umas deambulações pela gastronomia. Sabores com memória, sabores para partilhar.

Uma Ementa de Passagem de Ano em Família

Maurício Barra, 31.12.10

 

 

 

UMA EMENTA DE PASSAGEM DE ANO EM FAMÍLIA
 
Nestas datas em que todos têm disponibilidade para se encontrarem, sempre preferi um bom jantar e uma boa conversa com amigas e amigos do que o foguetório social em locais "over crowded", com comidas de catering mais ou menos disfarçadas e pretensiosas, mais ou menos a armar ao pingarelho com estéticas de  nouvelle cuisine. E com alegrias forçadas forçosamente partilhadas com estranhos.
Jantar fora é outra coisa.
Assim prefiro jantar dentro. Com escolha atempada da ementa, ouvindo sugestões dos comensais. Invariávelmente, a escolha recai em produtos de alta qualidade confeccionadas de uma forma "simples", ou seja, da forma mais apropriada para respeitar tanto a sua qualidade como a memória que temos dessas iguarias.
A ementa que vos sugiro nasce da junção de três ligações "mágicas". Mágicas porque são associações de sabores de tal forma marcantes que queremos sempre revisitar.
 
BLOC DE FOIE GRAS D'OIE
COM SAUCE CUMBERLAND E VINHO SAUTERNES
É um clássico, que em França se associa à passagem de ano. O molho Cumberland também é um clássico, com origem no Hotel Cumberland, onde era usado para acompanhar assados de carne. Conheci a sua associação ao fígado de ganso, há muitos anos, no Hotel Tivoli. Já experimentei muitos outros molhos, quase todos bons, mas é a este que volto sempre.
Servir com vinho de Sauternes, refrescado.
 
Ingredientes:
fígado de ganso inteiro
pão de trigo
Confecção:
Corte em tranches com a grossura de um dedo o fígado do ganso. Passe-as por uma frigideira anti-aderente, sem nenhuma gordura.
Retire a côdea ao pão de trigo, corte o miolo em quadrados ou triângulos relativamente finos, leve-os ao forno a secar ( tostas melba ). 
 
Ingredientes:
2 laranjas

1 limão
1 dl de vinho do Porto
1 colher (chá) de mostarda
1/2 colher (chá) de gengibre fresco
1 colher (sopa) de manteiga
1 cebola(s)
40 gr de compota de laranja ( orange marmalade ) 
 

Confecção:

 Com um ralador especial retire as cascas das laranjas e do limão em juliana.Se não possuir este utensílio, retire as cascas com uma faca, tire a parte branca das mesmas e depois corte em tiras muito fininhas.
Faça ferver as cascas juntamente com uma colher de sopa de cebola picada durante 3 minutos.Depois escorra muito bem a água.
Num recipiente junte a mistura de cascas e cebola, a compota de laranja, o vinho do Porto, a mostarda, o gengibre, a margarina e o sumo das 2 laranjas.
Ferva todos estes ingredientes 5 minutos ou mais, conforme desejar a consistência.
Deixe arrefecer e sirva frio
 
CARABINEIROS COM ARROZ DE ALHO
Outra ligação  imbatível, viciante
Ingredientes:
carabineiros
azeite
alho
piripiri sêco
arroz arborio ou carnaroli
Confecção:
Retire a casca aos carabineiros, deixando ficar as cabeças e a ponta do rabo.
Corte os dentes de alho ao meio e retire o filamento verde que está no seu interior.
Comece por fazer o arroz. Em azeite, coloque dentes de alho a refogar sem deixar queimar. Adicione o arroz. A partir de agora tem dois caminhos: ou faz em forma de risotto, adicionando a àgua quente temperada com vegetais mexendo sempre, ou adicione duas vezes e meia de volume de água em em relação ao volume do arroz, baixe o lume para o mínimo e deixe cozer lentamente ( aproximadamente 18 minutos ).
Os carabineiros são feitos muito rápidamente. Numa frigideira grande coloque azeite, piripiri e os dentes de alho. Não deixe queimar. Junte os carabineiros e frite-os em lume forte rápidamente dos dois lados.
Sirva imediatamente com o arroz de alho. E o molho dos carabineiros
 
 
PAPOS DE ANJO COM FRAMBOESAS
Outra ligação simplesmente perfeita. Para acompanhar sugiro um Vinho do Porto ( eu prefiro os Noval, mas já descobri que há uma Amiga que partilha um segredo dos mais guardados: a imbatível relação qualidade/preço do Graham's LBV )
Ingredientes ( manter esta proporção )
8 gemas
1 clara
1 colher de farinha
250 grs açucar
1/4 litro água
framboesas frescas
Confecção :
Bater muito bem as gemas até ficarem leves e espessas. Juntar a clara, bater novamente, juntar  a farinha, bater novamente, até ficar uma emulsão consistente.
Colocar em pequenas formas redondas, untadas com manteiga,, enchendo até meio. Levar ao forno. Quando crescerem até aos bordos, estão feitas.
Fazer uma calda com a água e o açucar. Deixar arrefecer. Colocar os papos de anjo, também já arrefecidos, dentro da calda.
Servir com framboesas frescas.


 

O Galo do Natal

Maurício Barra, 25.12.10

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O GALO DO NATAL
 
Na minha família já saboreámos quase todos os animais que se devotam ao dia do reencontro e da Natividade ( perú, capão, cabrito ), até houve um ano que  experimentámos o ganso, hábito alemão que não nos convenceu ( provávelmente porque o fizémos " à portuguesa ").
Mas o nosso animal de eleição é o galo. Galo de quinta, está bem de ver, alimentado durante um ano com vegetais e milho, grande ( galo com mais de um ano ), com a sabôr inconfundível dos assados de antigamente.
Mas, para nós, o galo assado não existe sem o respectivo recheio, receita cuja origem vem do chefe de cozinha do Grande Hotel nos anos setenta, a qual fomos adaptando ao longo dos anos.
È estas duas receitas que vos trago hoje, desejando-vos um Bom Natal.
 
GALO ASSADO COM RECHEIO
Ingredientes:
Galo do campo ( um ou dois, conforme o tamanho )
banha, azeite, margarina, colorau
sal, pimenta
Laranjas
Batata d'areia pequena
Esperregado
coentros
Para o recheio :
salsicha fresca
pato desfiado
pinhões
azeitonas pretas descaroçadas
castanhas
manteiga
cebola, salsa
vinho do Porto
aguardente velha
béchamel  ( opcional )
Confecção :
Prepare o galo, limpando-o e lavando-o com aguardente.
Agora tem dois caminhos : ou o leva a ferver em água temperada, com os miúdos, durante 45 minutos, retira-o, seca-o e coloca-o na assadeira, ou leva-o directamente para a assadeira.
Qualquer que seja a opção, barre-o com uma massa, na qual misturou azeite, banha de porco preto, margarina, colorau, sal fino e pimenta branca. Se possível, deixe-o ficar barrado em cru de um dia para o outro, dentro do forno.
Entretanto faça o recheio. Em tacho grande, ponha a alourar cebola picada em manteiga, á qual juntará o conteúdo das salsichas frescas, deixando refogar. MIsturando sempre, vá adicinando os restantes ingredientes : as castanhas despeladas, semi-partidas, o pato desfiado, os pinhões, as azeitonas descaroçadas, a salsa picada, um copo de aguardente e um copo de vinho do Porto. Vá misturando,  verificando a consistência. Se necessário, adicione molho béchamel, ao qual previamente adicionou gemas de ovos e noz moscada.
Então comece o assado. Se pré cozeu o galo, rechei-o imediatamente; se não, leve-o assar durante uma hora, retire-o, rechei-o  e leve novamente a assar ( esta assadura em dois tempos é necessária para que o galo coza por dentro ).
Lembrar que, de início o deve  assar em fogo forte, quando estiver tostado, baixe para fogo baixo. O tempo de assadura depende do tamanho do galo. Como prefiro assados em fogo lento, normalmente demoram mais tempo.
Para não queimar, e refrescar, vá adicionado periódicamente ao assado, uma mistura de sumo de laranja com aguardente velha ( este é um dos segredos deste assado )
Antes de servir só falta mais um preparo : o molho do assado. Quando retirar o galo da assadeira para trinchar, retire também todo o molho da assado para um tacho pequeno, leve-o a  ferver com mais aguardente e vinho do porto ( opcional ), mexendo sempre e , se o quiser engrossar, junte-lhe um pouco de farinha dissolvida.
Para acompanhar, sugiro batata d'areia, despelada, frita ou cozida durante cinco minutos, e colocada em assadeira no forno a assar com molho do assado, e esperragado ao qual junta coentros picados.
NB : no caso de ter optado por pré cozer o galo, continua a cozedura dos miúdos do mesmo,  e sirva, a anteceder, uma canja do galo
Bom Natal !

 

 

 

 

Mulled Wine, Glogg, Gluhwein e Eggnog

Maurício Barra, 19.12.10

 

 

MULLED WINE, GLOGG, GLUHWEIN, EGGNOG
Os vinhos quentes de Natal são uma tradição pouco  . . . . .tradicional em Portugal. É pena, porque são saborosos e são, apropriadamente, natalícios, cumprindo a função de aperitivo, ( não servem para acompanhar uma refeição ).
Os "mulled Wines" tem uma longa história. Na época medieval, estes vinhos tinham o nome de de "Ypocras" ou "Hipocris", derivativos do nome de Hipócrates. Eram considerados bebidas saudáveis, o que talvez se deva ao facto de que então o vinho ser mais saudável do que a água disponível nos grandes aglomerados, mantendo as pessoas saudáveis através dos frios Invernos do Norte da Europa. 
No séc. XVI, nos livros de cozinha registam-se métodos de fazer mulled wine com "Clarrey" e "Bordeaux". Essas receitas involviam mel, canela, cardamomo e vinho francês. O "mulled wine" era uma das bebidas favoritas da Inglaterra Vitoriana ( inclusive, o Negus, um tipo de mulled wine, era servido às crianças nas suas festas de aniversário ), continuando hoje a ser servido em festas de família.
O Glogg é uma bebida tradicional na Escandinávia, sobretudo na Suécia e Finlândia, consumida da época do Advento de Cristo  ( as seis semanas que antecedem o nascimento de Jesus ). O Glogg é feito tradicionalmente com vinho tinto, servido em copos que têm no interior amêndoas e passas de uva. A origem do Glogg é o mulled wine, ou seja, vinho quente com especiarias. Um destes mulled wine, no séc. XIX, era muito popular na Europa, o Gluhwein, o qual começou por incorporar os ingredientes do Glogg ( amêndoas e passas ).
O Gloogg diferencia-se porque, tendencialmente, tem mais açucar e, sobretudo, mais alcool, com a adição de bebidas espirituosas, o que se aceita se considerarmos os frígidos Invernos escandinavos.
O Eggnog tem uma origem de conteúdos diferente. Esta bebida desenvolve-se a partir da mistura de leite com ovos, à qual se adicionava Sherry ou Brandy. Era servido nuns pequenos copos de madeira - os noggin - dando origem ao nome Eggnog.
No séc. XIX tornou-se uma bebida popular na Grã.Bretanha, especialmente no período de Natal : era um "punch" clássico que era servido às visitas que se recebiam no período natalício. Podia ser servido quente ou frio, tal como ainda hoje.
Hoje em dia estas receitas têm milhares de variações, cada família com a sua própria adaptação à receita original. Contudo, nestas bebidas quentes de Natal, tal como antigamente, só persistem duas grandes variações : as que envolvem vinho e as que envolvem leite e ovos.
Deixo-vos duas receitas : uma que recolhi, a do Eggnog, e outra minha, a minha variação do Glughwein.
 
EGGNOG
3 gemas de ovo

1/4 taça de açúcar
2 taças de leite
pitada de sal
1/2 taça de natas
2 colheres (sopa) de rum
pitada de noz-moscada
rum

 

Misture as gemas com o açúcar em uma tigela que possa ir ao banho-maria, acrescente a pitada de sal e o leite morno. Leve ao banho- maria e misturando sem parar cozinhe as gemas para que o creme engrosse levemente, deve cobria as costas de uma colher de pau. Retire do banho-maria e acrescente o rum, misture e leve à geladeira para esfriar completamente. Bata as natas em ponto de chantilly leve, acrescente à mistura de leite e misture delicadamente, coloque em taças e salpique com noz moscada.
 
 
GLUHWEIN
água
vinho tinto
laranjas
canela em pau
pimenta em grão
cravo da índia
açucar ( ? )
Numa panela, misture um pouco de água, algum açucar ( eu uso muito pouco ) e a canela em pau. Leve ao fogo para ferver, diminua o fogo e mantenha a água fervendo em fogo baixo.

Corte as laranjas ao meio e esprema sobre a água fervendo. Fure a casca da laranja com os cravos-da-índia e também coloque a laranja com o cravo na água em ebulição. Mantenha a panela no fogo até que a água esteja com a consistência de uma calda líquida.
Misture o vinho, aumente o fogo, mas não deixe o vinho ferver. Tire os cravos que estão na casca de laranja e sirva.

Perdizes

Maurício Barra, 12.12.10

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Agora que, caça aberta, começam a ficar disponíveis os primeiros abates, a perdiz ocupa o seu lugar central anual que proporciona a minha reunião  com uns ( umas ) parceiros profanos que a Diana votam encómios, agradecendo-lhe as boas colheitas, seja a dos  cereais, seja  a da caça que daqueles vive.
Ao longo dos anos confeccionei diferentes formas de saborear a arisca. Após partilha de opiniões que levam sempre a acordo, assentei em dois ( mais um ) procedimentos, aos quais volto sempre.
São a receita do English Bar ( mais uma uma variação sobre a  mesma ) e a minha. Minha, salvo seja, que de caça não inventamos nada, senão para estragar, mas apropriei-me de um escabeche, amornei-o e enquadrei-o devidamente.
 
PERDIZ DO ENGLISH BAR
Ingredientes :
perdizes
vinho branco
alho
pimenta em grão
louro
azeite
vinagre
cebola
cenoura
molho de cheiros
malaguetas frescas
cravinho
Confecção:
Pôr a marinar as perdizes em vinho branco, alho, pimenta em grão e louro durante dois dias.
Fritar as perdizes em azeite e alho até alourarem.
Fazer um refogado em azeite com bastante cebola picada, cenoura cortada em juliana, um molho de cheiros e três a quatro malaguetas frescas.
Juntar as perdizes ao refogado e deixar estufar em fogo lento durante 1,30 hrs., juntando a marinada, vinagre e três cabeças de cravinho.
Servir com  batata cozida com a pele.
 
PERDIZ EM VINHO DA MADEIRA
Exactamente como a receita anterior, mas substituindo o vinho branco por vinho da Madeira.
Servir com triângulos de pão frito e batata palha.
 
PERDIZ EM ESCABECHE MORNO
Ingredientes:
perdizes
azeite
vinagre de cidra
alho
louro
pimenta preta em grão
cebola
míscaros ( pleurotos )
brôa de milho
Colocar as perdizes, cruas, no escabeche constituido por partes iguais de azeite e vinagre de cidra, alhos esmagados, louro e pimenta preta em grão. Deixar assim mais de um dia, no frogorífico.
Levar as perdizes e todo a escabeche, sem mais nada, a estufar em fogo lento durante 75 minutos.
Limpar os pleurotos, desfiar à mão, e levar a refogar numa frigideira em azeite com cebola em meias luas.
Cortar rectângulos de miolo de brôa de milho e fritar em azeite, até alourarem.
Servir cada perdiz, com o seu môlho, assim como os míscaros, em cima do respectivo troço de brôa de milho.
 
 

English Bar

Maurício Barra, 05.12.10

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ENGLISH BAR

 

A relação da minha família com o English Bar, hoje Cima's English Bar Restaurant, começou antes de eu nascer. De facto, foi aí que os meus pais fizeram o copo de água do seu casamento. E foi também aí que, eu e a minha irmã, oferecemos aos nossos pais a sua boda de ouro, quando fizeram cinquenta anos de casados ( este ano comemorámos os seus sessenta e um anos de matrimónio ).

Inaugurado por um inglês de que não tenho registo, daí o nome do restaurante, cêdo foi parar às mãos de Francisco Simas, que o transformou no "templo" que hoje conhecemos. Já falecido, foi  substituido pelo seu filho António e, agora, também com a ajuda da sua neta que se formou adequadamente para continuar com tão gostosa herança.

O English Bar ( desculpem lá, mas ninguém do Monte Estoril lhe chama Cimas ) mantém até hoje a mesma qualidade. Com uma carta, que alguns chamarão datadas, mas que eu considero indespensável a sua manutenção e persistência, senão qualquer dia só temos cozinhados sem memória, tem vários motivos que justificam uma incursão, nos quais destaco os seus pratos de caça, que continuam a ser ex-libris justificados.

Escondendo por agora a sua receita de perdiz, que guardarei para próxima croniqueta, apresento-vos duas receitas de caça que ainda estão em uso neste restaurante. Não me perguntem como as arranjei. Simplesmente vos asseguro que já as confeccionei e o resultado foi fantástico, comprovando que os melhores sabores não são necessáriamente resultado de tecnologias de laboratório. 

 

FAVADA DE CAÇA

Ingredientes :

perdiz, pombo bravo, lebre, coelho bravo

vinho branco

alho,louro

azeite

toucinho, chouriço

cebola, cenoura, molho de cheiros

piripiri

vinho da Madeira

 

Confecção :

Marinar a caça em vinho brando com alho e louro.

Depois de a retirar, alourar a caça em azeite e alho.

Fazer um refogado com azeite, alho, tiras de toucinho, chouriço, cebola picada, cenoura cortada em pequenos dados e o molho de cheiros.

Juntar a caça e a marinada, deixando estufar durante uma hora e meia.

As favas são feitas à parte : em azeite, refogar cebola, cenoura e alho picados, um molho de cheiros, chouriço picado, tiras de toucinho, vinho da Madeira e piripiri. Juntar água e cozer as favas.

Servir as favas num prato a rodear a caça, à qual se junta um pouco de môlho da mesma.

 

 

LEBRE COM FEIJÃO BRANCO

 

Ingredientes:

lebre

vinho tinto

cebola, cenoura, aipo, alho francês

louro, cravinhos, coentros

sal

azeite

malagueta

vinho da Madeira

tomate pelado

 

Confecção:

Marinar a lebre em vinho tinto, cebola, cenoura, aipo, alho francês, louro, sal, bastantes coentros e 2/3 cravinhos.

Alourara a lebre em azeite e alho.

Fazer um refogado em azeite com cebola e cenoura picados, molho de cheiros e malagueta. Puxar bem e acrescentar vinho da Madeira.

Juntar a lebre ao refogado, acrescentando tomate pelado e a marinada passada pelo passador ( chinez).

Estufar durante uma hora e meia.

Se nacassário ligar o molho com fécula de batata.

Servir com o feijão branco cozido, o qual cozeu simplesmente numa água temperada com cebola, alho, louro,salsa, sal e pimenta.

 

 

 

Dez ( mais um ) Bifes de Lisboa

Maurício Barra, 01.12.10

 

DEZ ( MAIS UM )   BIFES DE LISBOA

 

No passado dia 6 de Maio apresentei aqui uma recensão dos bifes tradicionais de Lisboa, a partir de um texto de José Quitério. Hoje divulgo um trabalho da jornalista  Mariana Castelo Branco, do Jornal i, que nos apresenta os seus dez melhores bifes de Lisboa.

Dos que apresenta conheço seis. Dos que não apresenta conheço um que é incontornável numa lista deste tipo : o Bife de Touro do Restaurante Travessa, no Convento das Bernardas, à Lapa.

Claro que numa lista destas, onde a qualidade da carne é fundamental, não entram  os bifes  mais tradicionais da capital e aos quais sempre voltamos, os da Trindade, da Portugália e da Lusitânia. O que se compreende considerando o alto coturno da comparação, mas que não afasta a paixão alfacinha por estas viandas. São uma espécie de filme B a que gostamos sempre de rever, uma versão a preto e branco do lombo de vaca, que junta nostalgia, desejo permanente e expectativas satisfeitas.

 

Bife à Café de São Bento

 

Muitos dizem que é o melhor da cidade. Pela carne (do lombo, sempre), pelo molho, e pelas discussões importantes que se conseguem escutar durante a refeição. Vicissitudes de um restaurante que tem tanto de pequeno como de concorrido. O facto de não aceitar reservas por vezes complica arranjar uma mesa para provar o bife. Ou complicava, até há cerca de um ano, altura em que o conceito se estendeu ao Casino do Estoril. Aí já com reservas possíveis e cozinha aberta até às duas da manhã.

Rua de S. Bento 212, Lisboa. 213 952 911/Pç. José Teodoro dos Santos Estoril. 214 669 835. Preço: €19

 

Bife XL

Talvez por estarem separados por apenas 300 metros, diz-se que o bife do restaurante XL vive na sombra do do vizinho Café de São Bento. Discutir se tal consideração é justa ou injusta far-nos--ia desviar do essencial. E o essencial é que o Bife XL é bom. Dos melhores da cidade. Carne tenra, um molho de natas e alho forte q. b. e batatas pequenas e caseiras a acompanhar. Nem sempre é fácil arranjar mesa, e o ambiente semi-exclusivo pode assustar os estreantes. Mas não há que temer.

Calçada da Estrela 57, Lisboa. 213 956 118. Preço: €18,70

 

Bife do lombo à Toni (dos Bifes)

Quando se põe bifes e Lisboa na mesma frase é quase um ultraje terminá-la sem falar do Toni. Dos bifes, isto é. Se o Café de São Bento é um clássico, o Toni dos Bifes é um Clássico com maiúscula. São muitos anos não a virar frangos, mas a servir bifes, do lombo e não só, no Saldanha, em frente ao Monumental. Quando este último ainda era teatro, os ditos saíam frequentemente da cozinha para os camarins dos grandes actores da época. Hoje em dia o Toni pode já não ter o glamour de outros tempos, mas continua a ser uma das paragens obrigatórias no mundo das carnes vermelhas.

Avenida Praia da Vitória 50 F, Lisboa. 213 536 080. Preço: €15

 

Bife do lombo à Café do Paço

Não figura habitualmente nos roteiros para o melhor bife da cidade, mas tal é só uma questão de tempo. O Café do Paço é uma casa recente que segue, contudo, o velho trâmite da porta fechada, que só se abre depois de tocada a campainha. Lá dentro está uma sala de aspecto clássico, poltronas vermelhas e mobiliário conservador. O ar austero do espaço contrasta com a simpatia dos empregados, gente com experiência nestas andanças que não hesitará em recomendar o óbvio: o excelente bife do lombo à casa, com um molho que o vai fazer gastar todo o pão que estiver na mesa. E tudo isto disponível até perto das duas da manhã.

Rua Paço da Rainha 62 A, Lisboa. 218 880 185. Preço: €16

 

Naco na Pedra do Edmundo

Se nunca acertam no ponto em que pretendem o bife não há nada como seguir a norma do it yourself. E não estamos a falar de viagens ao talho e estadias na cozinha. Não. A solução chama-se naco na pedra. Do lombo ou do novilho (se for fim do mês), este é sempre um dos pratos mais pedidos na cervejaria Edmundo, em Benfica. A carne vem crua em cima de uma pedra previamente aquecida e cabe ao comensal cozinhá-la a gosto. É acompanhada de molhos e batatas fritas caseiras. Se o Edmundo estiver cheio saiba que a iguaria também é recomendável no Pregoeiro ou no Coreto, em Carnide (que parece ser, estranhamente, a capital nacional da especialidade).

Av. Gomes Pereira 1, Lisboa. 217 154 502. Preço: €11,50 (novilho) €16,80 (lombo)

 

Bife Kobe do Olivier Café

Chamam-lhe o Rolls Royce dos bifes. O champanhe dos bovinos. E quem prova diz que nunca comeu nada assim. Chama-se bife Kobe porque vem, originalmente, da homónima região japonesa, o berço das vaquinhas Wagyu. Dizemos vaquinhas porque as ditas são mimadas diariamente com sessões de massagem, música clássica e várias doses de cerveja japonesa. Delas resultam os melhores nacos de carne vermelha do planeta. Paga-se caro, é certo, mas que todo o amante dos bifes não pode passar sem experimentar. Em Lisboa, Olivier da Costa é um dos (poucos) adeptos da especialidade, e no seu Olivier Café, serve-a acompanhada de manteiga wasabi e lima.

Rua do Alecrim 23, Lisboa. 213 422 916; Preço: €35

 

Bife à Cortador do Tachadas

O bife não é especialmente tenro nem prima por um sabor distinto. E o restaurante não tem um requinte especial. Ou, de todo, qualquer requinte. Mas o Tachadas e o respectivo bife à Cortador estão nesta (distinta) lista por uma razão. Pelo bruá. O bruá é uma palavra inventada por jornalistas desportivos que chegou a altura de aplicar a outras secções da imprensa. Designa surpresa. E surpresa é o que acontece cada vez que um bife à Cortador chega a uma das mesas do restaurante. Não é em vão que também lhe chamam bife A4. É a medida que todos conhecem, admiram e partilham no Tachadas. Com gosto.

Rua da Esperança 174-176, Lisboa. 213 976 689. Preço: €9,80

 

Rosbife Spazio

E agora diz o leitor indignado: "mas o rosbife não é bife, ensinou-me a minha avó em 1963". Pois não é. Mas discriminar a peça só porque é cortada e vai ao forno também não é bonito. E o facto de haver quem domine esta especialidade em Lisboa, como Justa Nobre, faz com que seja imperativo abrir uma excepção. É ao Spazio, o mais recente poiso do casal Nobre, que o rosbife continua a atrair uma clientela fiel desde os tempos da Ajuda. E o rosbife continua igual a si mesmo, saboroso, com as batatas assadas que servem de acompanhamento ideal.

Avenida Sacadura Cabral 53B, Lisboa. 217 970 760. Preço: €16, 80

 

Bife do lombo com pimenta do Vaskus

O conceito de steakhouse é das poucas coisas que nos faltam importar dos Estados Unidos. Ou, pelo menos, importar em massa, já que até existem, pecam apenas por ser poucas e passar despercebidas. O Vaskus é uma dessas excepções. Por lá encontram-se bifes em diferentes contextos, da picanha ao bife do lombo, que é a escolha certa, principalmente quando acompanhado do molho especial de pimenta. E , já que estamos numa de recomendações, as caipirinhas e a picanha também são de experimentar.

Rua Passos Manuel 30, Lisboa. 213 522 293. Preço: €18,50

 

Bife de chorizo do La Paparrucha

Pode pensar-se na Argentina como uma espécie de paraíso para muitos homens. Tem mulheres bonitas, futebol espectáculo (ou com perfume selvagem, como diria Gabriel Alves) e carne de qualidade. No La Paparrucha não se podem confirmar as duas primeiras, infelizmente, mas os famosos bifes de chorizo - o equivalente ao que nós, portugueses, chamamos vazia - são parte integrante do menu. A carne, geralmente com dois dedos de altura e idealmente servida mal passada, é uma excelente representante diplomática do país. E a vista panorâmica sobre Lisboa ajuda à digestão.

Rua D. Pedro V 18, Lisboa. 210 462 673. Preço: €19