Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Sala de Jantar

As minhas receitas, as receitas de outros e umas deambulações pela gastronomia. Sabores com memória, sabores para partilhar.

Sala de Jantar

As minhas receitas, as receitas de outros e umas deambulações pela gastronomia. Sabores com memória, sabores para partilhar.

Sericaia

Maurício Barra, 25.09.10

 

 

A gastronomia tradicional do Alentejo continua a ser a que se encontra  nos seus restaurantes. Mesmo naqueles em que os respectivos chefes ensaiam novas confecções, produtos ou ligações de sabores ( estou a lembrar-me do Tomba Lobos e da saudosa BolotaCastanha ), o peso da tradição está fortemente presente. Não será fácil implantar aqui cozinhas trendy para surpreender urbanos  - onde os sabores tradicionais persistem e são respeitados, a memória está sempre presente no prazer gastronómico.
Seja no restaurante caro, seja na tasca barata.
E, em todas elas, estão quase sempre presente três sobremesas, ricas, antiquíssimas, fáceis de fazer ( bom, o pão de rala dará algum trabalho ). Todas de origem conventual, ou não fosse o Alentejo Antigo a Terra dos Conventos ( só para dar um pequeno exemplo, Portalegre era conhecida pela cidade dos Sete Conventos ).
A doçaria conventual têm origem nos doces confeccionados nos conventos, caracterizados por serem, na sua maioria, compostos por grandes quantidades de açúcar e gemas de ovos.
A origem da doçaria conventual em Portugal terá origem no século XV. Terá sido neste período que o açúcar entrou na tradição gastronómica dos conventos. O principal adoçante até esta altura era o mel. Com a colonização da Ilha da Madeira, o açúcar recebe uma atenção especial, sendo cultivada a cana de açúcar.
A sugestão que vos trago hoje é a primeira de  três monumentos da doçaria alentejana que vos apresentarei nos próximos dias.
 
 
SERICAIA ( ou SERICÁ )
Atribui-se a origem desta receita aos conventos de Elvas e Vila Viçosa. Melhor ainda, rezam as estórias da história que a sericaia teve origem no Convento das Chagas de Vila Viçosa. Mas que no Convento de Nossa Senhora da Conceição ou no de Santa Clara, em Elvas, o doce passou a fazer-se de outra forma. Acrescentou-se-lhe a canela e um ingrediente essencial: a ameixa de Elvas.
Já comi sericaias excepcionais em muitos mesas de muitos lugares, mas a que a Teresa ( casada com o meu amigo Pedro F ) faz, é imbatível .

 

Ingredientes : 
Doze ovos
1l de leite
0,5 kg de açúcar
50 g de farinha
Uma casca de limão
Canela em pó
Sal
Boião de Ameixas de Elvas 
Preparação:

Ferve-se o leite com a casca do limão e um pouco de sal. Em seguida dissolve-se a farinha. Batem-se muito bem as gemas dos ovos com o açúcar, até ficarem em creme, e juntam-se ao leite. Leva-se ao lume para engrossar. Deixa-se arrefecer e juntam-se as claras, que foram batidas em Castelo. Num prato grande de barro, polvilha-se com muita canela e leva-se a cozer em forno forte. Dizem que um dos segredos é espalhar a massa na assadeira de barro àas colheres desencontradas (?).
Servir com Ameixa de Elvas e a respectiva calda.